Parece que Deus resolveu me presentear só com aventuras memoráveis. Por 5 dias vivi na Patagonia Argentina, tudo de melhor que certamente essa prova pode proporcionar.
A convite da organização fui para a Argentina para participar da prova El Origen Powerade 100k Patagonia 2017. Uma prova em que se pode ficar acampado ou em hotel, no camp oferecido pela organização da prova o atleta conta com toda a estrutura para vivenciar por completo uma prova dividida em três dias, contando com transfer, alimentação, vídeos, palestra após cada dia de prova. O diferencial de outras provas é que o atleta também pode ficar em hotel, ficando a seu cargo o transfer para o camp, afim de partilhar os momentos pós prova.
Simplesmente fui!
Sem nunca antes na vida ter acampado. E pude viver a montanha mais linda e bruta que se pode contar.
Nunca antes havia feito uma prova em que se dividia em três dias, então para mim, mesmo já tendo corrido distancias maiores, o desafio seria como eu acordaria no dia seguinte, e se conseguiria me adaptar bem na barraca e ter uma boa noite de descanso, que graças a Deus deu certo.
Meu maior desafio foi mesmo o clima, sair do Rio de Janeiro em plena segunda feira (27/02) de carnaval, temperatura media de 39° com sensação de 42° e chegar no dia seguinte em Villa La Angostura, a duas horas de Bariloche, Argentina, com temperatura de 5° C, lugar lindo demais!
Saí de casa com duas recomendações fundamentais do meu coach Alexandre Ribeiro sobre as dificuldades que encontraria: 1) frio e 2) as descidas das montanhas.
O frio veio acompanhada da chuva e do vento no meu primeiro dia…
No dia 1 de março foi o dia da retirada do kit, que foi o melhor fornecido em uma corrida que eu já tenha participado, e a noite foi a vez do congresso técnico da prova.
foto do kit retirada do instagram @Cristiane Perroni
Kit do corredor:
• Camiseta de corredor El Origen Powerade
• Camiseta térmica El Origen Powerade
• Jaqueta El Origen Powerade
• Mochila El Origen Powerade
• Bolsa de lona de 150 litros
• Prato raso
• Prato fundo
• Copo
• Jarro térmico
• Número de corredor
Chegou o primeiro dia de prova. 2 de Março.
Uma hora antes da largada, tivemos que deixar a bolsa (fornecida no kit), com todas os nossos itens que usaremos no final do primeiro dia de prova com a organização, que transportava até o camp, e uma sacola com nossas roupas limpas e secas para trocarmos assim que terminávamos a corrida.
Dada a largada, fomos presenteados com subidas espetaculares e de tantas dificuldades que por vezes até andar era tarefa das mais difíceis, mas ao atingir cada topo sempre a vista nos recompensava e nos impulsionava a superar meus próprios limites.
E também tinha os rios, tínhamos que atravessar, fomos informados no congresso técnico. Rios esses de águas geladíssimas dos degelos que desciam do alto das montanhas. Durante o percurso acho que atravessamos mais de 20 vezes, por cada vez tinha o choque térmico no nosso corpo quente com as águas geladas, o que me fazia tentar ir o mais rápido possível, afim de tentar me manter aquecida.
Descidas para mim inesquecíveis e assim foram por 6 horas. Vi e senti lá de cima uma fumacinha, me falaram tratar-se de um vulcão. A chegada foi em uma praia onde poderíamos nos trocar pelas nossas roupas secas, fazermos massagens e nos alimentarmos para sermos transportados para o camp e de lá a noite para uma escola que serviu de apoio para o jantar e o congresso onde foram passados os videos e trocamos uma ideia sobre o dia seguinte. Tivemos um típico churrasco argentino, comida vegetariana e muita conversa e risadas, e de lá fomos para o camp descansarmos para o segundo dia.
Chegou o segundo dia de prova. 3 de Março
A largada foi as 11h00. Foram 15 kms percorridos em 3h59. Para mim, foi o dia mais difícil, apesar de um dia lindo de sol, super agradável o desnível positivo foi intenso e quase ao atingir o topo fui atingida na canela por uma pedra desprendida por outros corredores que estavam acima e mais a frente na montanha, montanha essa formada de muitas pedras soltas e de várias formas e tamanhos, justificando o uso do capacete como um dos itens obrigatórios. O ferimento sangrou muito, fazendo com que parasse para fazer um rápido curativo utilizando o kit de primeiro socorros que também fazia parte dos itens obrigatórios. E ao atingir o cume, procurei o staff, equipado com materiais medico-hospitalares, que refez o meu curativo com mais cuidado.
Começou aí uma via crucis, que foi a descida íngreme ao extremo, interminável, me deixando simplesmente apavorada. A pedrada me deixou abalada, travei, desci muito mal com as mãos e os pés, fazendo com que perdesse muito tempo, mas em contrapartida fui recuperando a minha confiança e aos poucos tentando fortalecer novamente a minha mente. Afinal não poderia levar um tombo, o que comprometeria a minha prova e ainda tinha o terceiro dia para correr. O terreno da prova era sempre muito técnico. Quando voltei a correr já havia perdido muitas posições.
No dia anterior, terminei na quarta colocação geral feminina. Fui para o segundo dia com o objetivo do terceiro lugar geral feminina, mas falhei e terminei o dia em sétimo, com um gosto amargo por não ter conseguido. Após a chegada, fomos para o camp, jantar, congresso, videos e cama. Afinal ainda tinha o terceiro e ultimo dia de prova que, iria começar mais cedo.
Chegou o terceiro dia de prova. 4 de Março
Esse dia amanheceu frio, mas para mim de uma volta a felicidade. Dei tudo de mim. Queria fazer as pazes comigo e continuar me divertindo como no primeiro dia. E como foi especial. Parecia que nem havia transcorrido os dois dias anteriores. Subi como nunca, o mais rápido que pudesse com muita garra e fazendo o meu melhor. Um terreno extremamente técnico com muitas pedras, e como havia pedras. Escalei e desci sem medo. Aprendi demais no dia anterior, e aos poucos fui avançando com muita felicidade, e aproveitando a energia dos meus companheiros brasileiros que vibraram e torceram demais. Disputei de igual com as hermanas argentinas, que são excelentes atletas e correm demais e que estavam na dianteira. Mas como perdi tempo demais no segundo dia…. terminei com um pouco mais de 7 horas de prova.
Resultado não oficial, fornecido pela organização
Posição Geral 100k: 30 / 110
Posição Geral Feminina 100k: 5 / 42
Posição Categoria Feminina 30 – 39: 1 / 7
Voltei com a sensação de vitória pessoal, lindas paisagens e de montanhas inesquecíveis. Prova de uma organização impecável, percurso bem marcado e sinalizado e staffs todos sempre muito solícitos.
El Origen Patagônia 100k 2017 eu vivi.
*fotos oficiais da organização
Sobre a Prova:
A TMX apresentou a sexta edição dessa incrível competição de três dias consecutivos de corrida pelos lugares mais espetaculares da Patagônia Argentina. Dessa vez, o encontro nos levou às incríveis paisagens de Villa Traful e Villa La Angostura.
Assim como nas edições passadas, o passeio será feito totalmente em trilhas, combinando vales, montanhas, prados e coasterings de lagos.
Os acampamentos, como já é habitual no El Origen Powerade, tiveram serviços Premium, para que os corredores possam relaxar e descansar para encarar as seguintes etapas. Comida caseira, projeção de vídeos e fotos cada noite, massagens e atividades à tarde… Tudo em um clima que só é possível em uma comunidade de atletas e organização única do El Origen Powerade!
Showwww Parabéns Ana!!!